Perguntas e Respostas

Segunda chance?

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Para aqueles que desconhecem a teoria do arrebatamento e demais detalhes, um rápido esboço é importante para situar-se e poder melhor julgar toda a exposição do tema desta linha de interpretação que faremos. Será necessário a leitura de outros tópicos neste blog, para que a compreensão do assunto seja completa. Segundo a teoria, acreditam que:

a) Existe um plano de salvação para Israel e outro pra Igreja;

b) O arrebatamento é somente para a Igreja;

c) Os que não são arrebatados passarão por 7 anos de tribulação;

d) No meio dos que não são arrebatados está Israel, que não creu em Cristo como messias, mas agora irá aceitá-lo e cumprir sua missão;

e) O Armagedom é uma batalha que Israel terá que enfrentar contra o anticristo;

f) O anticristo é um personagem que aparece na metade do transcurso da tribulação, ao passarem 3.1/2 anos, ele é mal, porém carismático e controlará o mundo arregimentando todos contra Israel.

g) Somente após a tribulação de 7 anos é que acontecerá a volta de Jesus em glória e majestade;

h) Após a volta de Jesus ocorrerá o milênio bíblico.

Essa doutrina do arrebatamento secreto e demais detalhes tem aceitação entre os evangélicos atuais em níveis surpreendentes, mesmo com raízes vindas da contra-reforma em reação ao protestantismo (verhttp://teologowerber.com.br/?p=273). Os adeptos da teoria parecem ignorar os motivos e razões pela qual ela foi concebida.  Após algum tempo ela adquiriu algumas “atualizações” e transformou-se numa saga surpreendente apresentada em caráter hollywoodiano, outros chegam ao extremo a afirmar que o arrebatamento secreto da igreja já passou do prazo[1]. No ano de 1970, Hal Lindsey  predisse que desde o estabelecimento da nação israelita seguindo-se 40 anos, seria o prazo quando todas estas coisas encontrariam lugar[2]. Tem-se calculado que a formação do estado de Israel inicia a “última geração” que verá o arrebatamento, seguido dos 7 anos de tribulação e finalmente o Retorno de Cristo em glória. Seja qual for sua arquitetura, a verdade é que ela foi construída por motivos obscuros e interesses errados.

Em 1990 um famoso expositor chamado Tim LaHaye e Jerry Jenkins criaram em 1995 uma atraente série televisiva cujo objetivo era tornar o livro do Apocalipse mais atraente e real aos cristãos, com o título de Left Behind (Deixados para Trás), o resultado foram milhares de cópias vendidas e um saldo que tornou a série em um dos maiores best-sellers do século 20. A popularidade crescente a fez transformar-se numa sequência de 12 livros, dando origem ao filme produzido pela Cloud Tem Pictures estreando nos cinemas no ano de 2001.

A história tem seu início com o súbito desaparecimento de cristãos no ar, seguido de uma sequencia cataclísmica, com milhões de pessoas de todas as partes não sendo encontradas. Simplesmente sumiram, deixando para trás tudo o que era material: roupas, óculos, lentes de contato, cabelos postiços, aparelhos de surdez, próteses, joias, sapatos e até mesmo marca passos e pinos cirúrgicos. Um número bem maior ficou para trás, adultos, porém não crianças, e apenas alguns adolescentes. Todos os bebês, inclusive os que estavam para nascer, desapareceram — alguns durante o parto. Aviões, trens, ônibus e carros colidiram, navios afundaram, casas incendiaram, sobreviventes acometidos de angústia suicidaram-se. Um congestionamento de transportes e linhas de comunicação, somado ao desaparecimento de inúmeros funcionários, deixou a maioria das pessoas lutando sozinhas para sobreviverem até que a situação começasse a se normalizar. O resto da humanidade que fora deixada para trás acorda para o pesadelo de um mundo enlouquecido. Confusão em massa introduz no mundo um período de sete anos chamado tribulação. Em meio a esse pânico universal, um homem misterioso e mal chamado de o Anticristo, sobe para pôr ordem no caos. Com uma personalidade poderosa e carismática, ele assume o controle das Nações Unidas. Resta aos novos crentes resistir ao seu poder e lutar contra a marca da besta. Finalmente, no ponto alto do conflito quando ele arregimentar todos contra a nação de Israel literal, o Senhor levanta-se para salvá-los, esse é o retorno de Cristo em glória e majestade, seguido do milênio.

Será que debaixo da excitação e todo drama desta história popular é possível que algo não esteja certo? Será que esta série sobre pessoas desaparecidas, está de acordo ou simplesmente oculta as verdades da Bíblia? Em caso afirmativo, quais verdades estariam sendo ocultadas? Em caso negativo, estaria à humanidade preparada para uma nova chance? Seja afirmativa ou negativa a sua resposta, o apóstolo Paulo escreveu: “Examinai tudo, retende o que é bom” (1 Tessalonicenses 5:21).

Será necessário analisar essa teoria pondo a prova seus principais pilares de sustentação, testar sua resistência e perceber se há ou não ranhuras:

  • 01 – As raízes do dispensacionalismo futurista.
  • 02 – Os dois planos de salvação distintos, a igreja e outro para Israel.
  • 03 – O arrebatamento ocorrer invisivelmente e não na segunda vinda de Jesus Cristo em glória e majestade.

01 – As raízes do dispensacionalismo futurista

Para saber a origem da teoria leia: http://teologowerber.com.br/?p=273

02 – Os dois planos de salvação distintos, a igreja e outro para Israel

Para a diferença entre Israel e a Igreja leia: http://teologowerber.com.br/?p=282

03 – O arrebatamento ocorre invisivelmente e não na segunda vinda de Jesus Cristo em glória e majestade?

Uma leitura concisa é necessária à percepção da verdade e o esclarecimento, buscando a ligação do arrebatamento com a volta de Cristo em glória e majestade, seguindo o raciocínio:

a) João chama de “feliz” quem participa da 1ª ressurreição (Ap 20:6);

b) O mesmo João a chama de “ressurreição da vida” (Jo 5:28-29), unindo as ideias temos: “são felizes os da ressurreição da vida”.

c) Paulo atribui como pertencendo aos salvos a primeira ressurreição (1Ts 4:16), mesclando os pensamentos temos: “são felizes os da ressurreição da vida e isso pertence aos salvos”.

d) Na vinda de Cristo o arrebatamento ocorre logo em seguida a ressurreição dos justos (1Ts 4:17), concluímos que: “são felizes os da ressurreição da vida, isso pertence aos salvos e o arrebatamento ocorrerá logo sequencialmente”.

e) Ainda o apóstolo Paulo afirma que por ocasião do retorno de Cristo os vivos são transformados num “abrir e fechar de olhos” (1Co 15:52), a junção das ideias até aqui nos apresenta que: “são felizes os da ressurreição da vida, isso pertence aos salvos, esse evento é logo precedido pelo arrebatamento, em seguida os vivos são transformados instantaneamente”.

f)  O que ocorre como “abrir e fechar de olhos” não é o arrebatamento, mas a transformação do corpo que é mortal e corruptível (1Co 15:52), o composto dos itens “a)” ao “f)” nos dá: “são felizes os da ressurreição da vida, isso pertence aos salvos, logo sequencialmente vem o arrebatamento, em seguida os vivos terão seus corpos num abrir e fechar de olhos transformados para a imortalidade”.

g) Após a ressurreição dos justos, estes se unem aos santos vivos e todos são arrebatados aos céus (1Ts 4:16-17), até aqui os textos bíblicos trazem a clara verdade: “são felizes os da ressurreição da vida, isso pertence aos salvos, esse evento ocorre antecedendo o arrebatamento de todos os justos vivos e salvos que estavam mortos, não antes de todos os vivos num abrir e fechar de olhos terem seus corpos transformados para a imortalidade”.

Uma simples leitura em Mt 24 já demonstra a sequência dos eventos escatológicos do fim como estão sendo propostos, observe sequencialmente os versos.

1. Jesus adverte para ninguém enganá-los (vs. 4-5);

2. Fala sobre os sinais de sua vinda (vs. 6-12);

3. Comenta sobre a perseverança (v. 13);

4. Diz qual é o último sinal (v.14);

5. Manda ler Daniel e obedecer sua ordem rapidamente (vs.15-20);

6. Diz que acontecerá uma tribulação (vs. 21-22);

7. Ensina que não haverá nada de secreto (vs. 23-28);

8. Fala que logo após a tribulação acontecerá a volta em glória (vs.29-30).

Já que a vinda em glória, ressurreição dos mortos em Cristo, o arrebatamento não secreto de todos os salvos (vivos e mortos que viveram), a transformação num abrir e fechar de olhos do que é corruptível, ocorre juntos por estarem no mesmo evento, resta-nos observar se a vinda será ou não secreta, mas agora do ponto de vista que o arrebatamento e a vinda em glória são o mesmo evento.

Além do que tanto Jeremias quanto Paulo descrevem a vinda do Senhor (1Ts 4:16-17 e Jr 25:30-33) durante a qual existe um “grande brado”. Jeremias fornece informações adicionais, dizendo que o Senhor “rugirá fortemente”, e então ele diz que o “estrondo” será ouvido no mundo inteiro.

O mesmo apresenta Pedro quando diz “os céus passarão com estrepitoso estrondo” 2Pd 3:10.

Este dia vem como ladrão de noite, não representando o aspecto “secreto”, mas um momento inesperado e surpreso, não pode vir discreta e invisivelmente, pois admitir esta hipótese é desconsiderar completamente o contexto imediato, principalmente pelas palavras “…não estão em trevas para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão”. 1Ts 5:4

Existem inúmeras razões para não apoiarmos o arrebatamento secreto, analisemos:

O vocabulário do segundo advento de Cristo utilizado não apoia a “visão secreta”. Nenhuma das três principais palavras gregas usadas no Novo Testamento para descrever o retorno de Cristo sugere algo secreto:

a) parousia (vinda)

b) apokalypsis (revelação)

c) epiphaneia (aparecimento)

Seria muita infelicidade textual dos discípulos de Jesus em escolher justamente palavras que demonstram o contrário daquilo que queriam transmitir.

Na verdade, 1 Tessalonicenses 4:15-17, dá a descrição mais notória do Segundo Advento, sugere exatamente o oposto, será o evento com mais barulho que a terra irá presenciar, até os mortos “escutarão” (rsrsr). A palavra de ordem, a trombeta, o ajuntamento dos vivos e mortos ressurretos, dificilmente estaria sugerindo algo secreto.

A alegação de que aquele que não participar do arrebatamento secreto tem outra oportunidade de salvação durante o período da Tribulação, é outro equívoco em que os irmãos dispensacionalistas caem, isso é contrário ao contexto bíblico.

A noção que temos na parábola das virgens é de indignação por parte de algumas convidadas que não conseguem entrar após a vinda do Senhor (Mt 25:11-13), além disso a ênfase dessa discussão pode ser resumida em Ap 3:11 “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”.

Como é possível aos que ficam, ou seja, aos que não são arrebatados já saberem o ano da volta de Cristo em glória? Em no máximo 7 anos pra frente a partir do arrebatamento? Sim, pois precisariam apenas calcular 7 anos a frente e descobrir quando Cristo virá em majestade (contrário ao texto de Mt 24:36), além do que após o arrebatamento os que ficam seriam motivados mais pelo fator medo (já que confirmaram esse “grandioso” evento e não foram incluídos) do que por um sentimento de sinceridade por busca à Cristo.

Outro ponto importante é Ap 16:15-16 que diz “Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia…” mostra que em meio ao drama das pragas e conflitos que ocorrem nos versos anteriores (vs. 1-14), Cristo não voltou ainda, pois fala “venho como ladrão”, ou seja, ainda não voltou como “ladrão”, o que sugere que Ele fala então para a Igreja. Assim, como eles podem ter sido arrebatados? De fato, Jesus não irá salvar sua igreja da tribulação, mas na tribulação (Dn 12:1; Mt 28:20), semelhante ao povo hebreu que no passado foi salvo no Egito, mas não do Egito. Esse pensamento é confirmado por Paulo quando disse para tomarmos toda armadura de Deus para resistirmos ao dia mau (Ef 6:13), que era necessário passarmos por tribulações (At 14:22), Jesus informou que seríamos odiados e nos matariam (Mt 24:9-13); Cristo disse ao Pai: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (João 17:15); nosso Salvador disse que “Eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra” (Apocalipse 3:10). Se a Igreja estivesse ausente da Terra durante a hora de prova, não haveria necessidade de proteção divina.

Numa época em que as pessoas ingerem toda sorte de analgésicos para evitar ou aliviar a dor, não surpreende que muitos estejam dispostos a fazer o mesmo com um Arrebatamento pré-tribulacional — um ensino que promete às pessoas isenção total do sofrimento da tribulação final.

Left Behind [deixados para trás] posiciona a conversão de muitos descrentes durante a tribulação, outro ensino também alheio à Bíblia. Repetidamente o Apocalipse afirma que os que experimentam as pragas finais “não se arrependeram de sua obras” (Apocalipse 16:11; 16:9), ademais, destrói a unidade e finalidade da Vinda de Cristo, apresentada nas Escrituras como um evento único que ocorre após a Grande Tribulação. Não haverá segunda chance para os que são deixados para trás quando Cristo vier.

“Virá, entretanto, como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas” (2 Pedro 3:10)

Os livros e filmes do deixados para trás estão permeados de um ensinamento potencialmente fatal, que é o ensino de uma “segunda chance”. Veja por exemplo, a perigosa admoestação que o pastor, já “arrebatado”, dá no videoteipe que ele gravou para aqueles que foram “deixados para trás”: “não faz qualquer diferença, a esta altura, saber o porquê de você ainda estar na Terra. Você pode ter sido muito egoísta, orgulhoso ou ocupado, ou talvez simplesmente não reservou tempo para examinar as palavras de Cristo dirigidas a você. A questão agora é que você tem outra oportunidade. Não a deixe escapar”[3].

Há inúmeras chances no transcorrer da vida, mas quando Jesus voltar, acabou! Com isso percebe-se o grande engano que alguns podem estar envolvidos, pois independente do estilo de vida que vivam hoje, eles terão outra chance, é isso uma doutrina de Deus?

Conhecendo a natureza humana do jeito que a conhecemos, pense no que seríamos tentados a fazer diante de uma proposta tão diabólica quanto esta? Viver deliberadamente em pecado até o arrebatamento, quando os “crentes” sumirem, ainda terei 7 anos pela frente. O que ganharia Deus se tudo isso fosse verdade? Nada. Qual a utilidade de amigos oportunistas? Para que servem aqueles que passam a vida rejeitando ao Senhor, mas que de olho no calendário profético, rapidamente desejam “reformar” sua vida somente para não perder o céu, certamente Jesus não conquistaria um único amigo genuinamente fiel em um cenário como este.

A teoria do arrebatamento também está firmada sobre Mt 24:40-42.

“Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro deixado.

Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra deixada”. Mateus 24:40-41

Este verso não apoia o arrebatamento secreto, por duas vezes Jesus alertou sobre qualquer ensinamento que sugira que Ele virá de maneira secreta, disse: “não acrediteis”. Além disso, Jesus não poderia ser mais claro quando acerca de sua volta declarou: “…todo olho o verá” (Ap 1:7) seriam testemunhas deste magnífico momento.

Uma grande razão para não apoiar o arrebatamento secreto é o fato do que ela ensina sobre o destino dos que ficam nesta terra, a razão para rejeitarmos é que Cristo compara sua parousia aos dias de Noé, “Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem”. Mateus 24:37

Jesus está dizendo que quando ele vier outra vez será como foi no dilúvio, as rotinas normais da vida estarão ocorrendo, bebendo, comendo, dando-se em casamento, então, de repente Ele aparece, e lembre-se, será do mesmo jeito que foi com Noé, alguns serão “levados” e outros serão “deixados”, alguns estarão no campo, no moinho, em casa ou na cama.

As traduções KJV (King James Version) e NKJV (New King James Version) de Mateus 24:39 – “veio o dilúvio e levou a todos” – são confusas, porque ambas as traduções utilizam derivativas da mesma palavra inglesa [take] (levar, tomar) para traduzir duas palavras gregas totalmente diferentes. Ao descrever o dilúvio destruidor no verso 39, a palavra grega (airo-αἴρω–levar) significa ser “varrido” em destruição – e por isso a tradução da NRSV (New Revised Standard Version) “veio o dilúvio e os varreu [da terra]”.

Sobre [airo] poder significar destruição pode ser confirmado em alguns léxicos: “destruir”[4], “executar”[5], “remover ou matar”[6], “tomar, remover, como referência à morte em Atos 8:33, João 17:15, privação da salvação em Mateus 21:43, a remoção de julgamento em Atos 08:33, para remover a culpa pela cruz em Colossenses 2:14 e da expiação do pecado em 1 João 3:5”[7]. Outras referências há em: Mt 9:6 “…Levante-se, pegue a sua maca e vá para casa”; Mt 13:12 “…até o que tem lhe será tirado”; Mt 11:29 “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração…”.

O verso 39 refere-se a todos os ímpios que serão destruídos por ocasião da volta de Jesus, daí que a palavra utilizada foi [airo] “destruição”, não pode referir-se aos salvos pois não sofrem dano algum.

A mesma literatura utilizada para encontrar o significado de “levados – destruídos” define também para os versos 40 e 41, quanto à descrição de Jesus sobre “um será tomado e outro será deixado”.

Trata-se de um grego mais pessoal para “receber para si mesmo” [paralambano] – encontrado também em Jo 14:3, aqui fazendo referência obviamente aos salvos que serão recebidos [gr. paralambano – recebidos] no céu por ocasião do retorno do salvador, um contraste com os que são “deixados”.

Interessante notar que fazendo referência aos que são deixados, agora utiliza uma nova palavra [gr. aphiemi – despedir: Mt 13:36; deixar para trás: Mt 4:20; rejeitar: 1Tm 1:19; morrer: Mt 27:50[8]], também como [rejeitar, recusar-se a ouvir: Mc 7:8; uma atividade que implica a cessação completa, abandonar: Ap 2:4, formalmente, mandar embora o espírito: Mt 27:50[9]], também como [deixar, abandonar: Mt. 4:11; Mt. 4:20; Mt. 5:24; Mt. 5:40; Mt. 8:15; Mt. 18:12; Mt. 19:27; Mt. 19:29; Mt. 22:22; Mt. 22:25; Mt. 23:38; Mt. 24:2; Mt. 26:44; Mt. 26:56; Mc. 1:18; Mc. 1:20; Mc. 1:31; Mc. 10:28–29; Mc. 12:12; Mc. 12:19–22; Mc. 13:2; Mc. 13:34; Mc. 14:50; Lc. 4:39; Lc. 5:11; Lc. 10:30; Lc. 13:35; Lc. 18:28–29; Lc. 21:6; Jo. 4:3; Jo. 4:28; Jo. 8:29; Jo. 10:12; Jo. 14:18; Jo. 14:27; Jo. 16:32; At 2:8][10].

A palavra “levados” do verso 39 não tem o mesmo significado dos versos 40-41, como vimos nas explanações anteriores. Porém, as traduções trazem ambas sendo “levados” com mesmo sentido, o que favorece o ensino do rapto secreto. Se o próprio contexto apresenta que “todos” são “levados” e a luz do contexto do que ocorreu no dilúvio, os que foram destruídos são os que rejeitaram, isso já elimina também a hipótese de os “deixados” do verso 40-41 estarem vivos, ou seja, serem os que passarão 7 anos de tribulação.

Portanto, a melhor tradução para a passagem de Mt 24:39-41 seria:

“…e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os [airo – destruiu] a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem. Dois homens estarão no campo: um será [paralambano – recebido] e o outro [aphiemi – deixado morto].

Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será [paralambano – levada] e a outra [aphiemi – deixada morta].

Aqui está uma grande verdade que “deixados para trás” rejeitou, que aqueles que ficam para trás são destruídos completamente “como foi no dilúvio”. A palavra grega para dilúvio é [kataklysmos] de onde vem a nossa palavra cataclisma, que é exatamente o que sucedeu naquela época e será o mesmo por ocasião da segunda vinda de Cristo.

Os que ficam para trás não serão deixados vivos, é exatamente por essa razão que a doutrina sofre uma grande ruptura, pois como os habitantes haverão de passar pelo período de 7 anos de tribulação se ninguém ficará vivo neste planeta diante do cataclisma que ocorrerá?

Lembremos da história de Sodoma e Gomorra, que é exatamente a narrativa paralela encontrada no evangelho de Lucas 17:27-30, nela que foi acrescentada um fato que dá ênfase a destruição, lá está escrito:

O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio e os destruiu a todos.

Aconteceu a mesma coisa nos dias de Ló. O povo estava comendo e bebendo, comprando e vendendo, plantando e construindo. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu e os destruiu a todos. Acontecerá exatamente assim no dia em que o Filho do homem for revelado.
Lucas 17:27-30 (NVI)

Perceba a sequência, Ló foi tirado da cidade e levado para um lugar seguro, e o que aconteceu aos que foram deixados para trás? Ora, assim como no dilúvio foram varridos por um cataclisma sobrenatural, eles foram mortos pelo fogo que caiu do céu.

Para confirmar ainda mais esta linha de interpretação, Jesus deixa uma sombria mensagem: “Lembrem-se da mulher de Ló!” (Lc 17:32), esta personagem foi usada como referência para explicar o que ocorre aos que ficam para trás, exatamente aquela que foi deixada para trás, ela ficou morta, transformou-se numa pedra de Sal.

Mateus 24 deve ser interpretado à luz de seu contexto e demais passagens paralelas, tampouco análise isolada de passagens ou palavras.

No contexto bíblico o retorno do Senhor Jesus será:

 Audível (I Tessalonicenses 4:16)

 Glorioso (Mateus 16:27; Apocalipse 19:11-16).

 Súbito e inesperado (Mateus 24:38-39).

Existem cinco descrições bíblicas bastante “não secretas” de como Jesus voltará em breve ao nosso planeta.

1) COM OS ANJOS – Segundo o mestre todos os anjos do céu o acompanharão (Mt 24:31). O relato bíblico do que causou apenas um único anjo que desceu dos céus por ocasião da gloriosa ressurreição de Jesus (Mt 28:4) não parece ter realizado pouco efeito, pois “os guardas tremeram espavoridos e ficaram como se estivessem mortos”, se isso pôde ser verdade com apenas um único ser celestial, o que dizer que ocorrerá a este planeta quando todo o horizonte e o céu acima ficarem repletos destes seres gloriosos, ninguém ficará dormindo ou passará despercebido.

2) COM TROMBETA DE DEUS – Tanto Paulo quanto Jesus descrevem a trombeta de Deus soando suas notas prateadas na segunda vinda (Mt 24:31; 1Ts 4:16). Para saber o efeito que isso pode causar lembremos do monte Sinai quando o Todo Poderoso deu sua Lei Santa (Ex 19:16 e compare com Mt24:31 e 1Ts 4:16), uma parte do trecho diz “…e mui forte clangor de trombeta, de maneira que todo o povo que estava no arraial estremeceu”. Verdadeiramente ensurdecedor será este evento, como pode ser secreto?

3) COM PODER E MUITA GLÓRIA – As palavras de Jesus para descrever sua própria volta foram “com poder e muita glória” (Mt 24:31). A palavra grega para grande é [mega] – o que quer dizer que o segundo advento será um “mega” momento de glória e poder! Tudo que assume caráter [mega] é gigantesco.

4) COM RELÂMPAGOS E FOGO – O monte Sinais explodiu com relâmpagos e com fogo quando Deus desceu em sua espetacular aparição. Na volta de Cristo não poderia ser diferente, tanto que a descrição do discípulo Pedro sobre este dia é incrivelmente destruidora “…os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada”. 2Pd 3:10. Realmente não é um tipo de evento muito secreto.

5) COM UM TERREMOTO – Com magnitude de 9.0 na escala Richter, em 2011 ocorreu um devastador terremoto no Japão, sendo o quarto maior da história, seguido por um tsunami que atingiu no país tendo como epicentro no oceano Pacífico, a 400 km de Tóquio, a uma profundidade de 32 km, ele gerou ondas gigantes de 10 metros que chegaram a uma velocidade de 800 km/h antes de atingir a costa japonesa, esta catástrofe ficou atrás de outro ainda maior no Chile em 1960 que apagou completamente várias cidades do mapa. Sinceramente, é impossível podermos imaginar como será o terremoto da volta de Jesus, mas de uma coisa podemos estar certos, não há nada de secreto neles, não haverá absolutamente nenhum humano vivo que venha a perder o evento do retorno de Cristo.

Reflita, depois de tudo que Jesus passou por amor a nós; humilhado, açoitado, ridicularizado, esbofeteado, não é melhor que ao invés de voltar à nossa Terra de forma secreta, chegasse Ele triunfalmente ao som de todas as trombetas, diante dos olhos de todos os mortais? Reflita.


[1] Hal Lindsey, The Rapture: Truth or Consequences (New York, 1983), p. 24.

[2] Hal Lindsey, The Late Great Planet Earth (Grand Rapids, 1970), p. 54.

[3] Deixados para trás, p. 193.

[4] Louw, J. P., & Nida, E. A. (1996). Vol. 2: Greek-English lexicon of the New Testament: Based on semantic domains (electronic ed. of the 2nd edition.) (6). New York: United Bible Societies.

[5] Swanson, J. (1997). Dictionary of Biblical Languages with Semantic Domains: Greek (New Testament) (electronic ed.). Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc.

[6] Tuggy, A. E. (2003). Lexico griego-español del Nuevo Testamento (21). El Paso, TX: Editorial Mundo Hispano.

[7] Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (2002). Compendio del diccionario teológico del Nuevo Testamento (36). Grand Rapids, MI: Libros Desafío.

[8] Louw, J. P., & Nida, E. A. (1996). Vol. 2: Greek-English lexicon of the New Testament: Based on semantic domains (electronic ed. of the 2nd edition.) (40). New York: United Bible Societies.

[9] Swanson, J. (1997). Dictionary of Biblical Languages with Semantic Domains: Greek (New Testament) (electronic ed.). Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc.

[10] Tuggy, A. E. (2003). Lexico griego-español del Nuevo Testamento (147–148). El Paso, TX: Editorial Mundo Hispano.

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