Profecias em Roma
Roma ainda carrega as marcas de seu passado de poder e glória. Palácios, arcos milenares, portões imensos e colunas de templos espalhados pela cidade nos fazem imaginar o que essa cidade foi um dia. Estudantes, motoristas apressados, visitantes e trabalhadores de todas as partes do mundo contemplam diariamente monumentos, pedras e os vestígios do maior império da Antiguidade. Enquanto as maiores cidades do mundo não tinham uma população maior do que 15 mil habitantes no primeiro século da era cristã, mais de um milhão de pessoas caminhavam pelas ruas apinhadas de Roma.
A chamada Cidade Eterna foi a implacável capital do império que crucificou Jesus, destruiu o segundo templo, proscreveu os judeus, decapitou Paulo, crucificou Pedro, barbarizou cristãos no Coliseu e fez inúmeros mártires que se recusavam a prestar culto ao imperador. Mais de 500 mil cristãos foram enterrados nos mais de 160 quilômetros de catacumbas que permanecem até hoje. Chamada de Babilônia por Pedro (1Pe 5:13), foi nessa cidade que o cristianismo ganhou o status de religião oficial no quarto século e, a partir do Vaticano que esta cidade abriga como país independente, a figura do papa projeta uma influência religiosa e política global em nossos dias. A cidade que foi destruída pelos bárbaros ressurgiu, assim como a igreja romana, herdeira do antigo império, renasceu para maravilhar o mundo, segundo o livro do Apocalipse (13:3).
A conferência
Talvez como nenhuma outra cidade no planeta, Roma falou do passado, é ouvida no presente e terá um papel crucial no futuro. Nessa cidade, nos dias 11 a 21 de junho, teólogos, administradores, editores e interessados de todo o mundo se reuniram na 4ª Conferência Bíblica Internacional, com o tema escatologia. Onze presidentes das 13 regiões administrativas da igreja mundial estiveram presentes no evento, entre eles, o pastor Erton Köhler, líder da Igreja Adventista do Sétimo Dia para a América do Sul. O evento é organizado pelo Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI, sigla em inglês) e realizado a cada cinco anos. É uma oportunidade singular para o estudo, a adoração e a reflexão. Mais de 370 participantes apresentaram aproximadamente 100 pesquisas sobre temas ligados a todas as áreas da teologia (bíblica, sistemática, pastoral e histórica), além de temas transversais nos chamados “estudos adventistas”. A delegação sul-americana teve 53 pessoas, envolvendo líderes da Divisão, diretores, coordenadores, professores de seminários e editores. A CPB enviou quatro pastores que atuam na Redação.
Destacou-se na conferência a importância da escatologia bíblica. Nas palestras, os teólogos discutiram questões fundamentais como o que ela é, sua função no quadro maior da teologia bíblica e sua metodologia. Foram apresentadas as diferenças básicas entre as profecias clássicas e apocalípticas. Enfatizou-se também a abordagem historicista das profecias, bem como as tendências e as preocupações atuais. No sermão do sábado, o pastor Ted Wilson, presidente mundial da igreja, enfatizou que escatologia não está presa entre o passado e o futuro, mas envolve nosso presente por meio de nossa participação individual na missão da igreja, que também é profética. A teologia se realiza na pregação da mensagem a todo o mundo, que constitui o último sinal para a volta de Jesus. Como afirmou Elias Brasil, diretor do BRI, “a prática é a mãe da teologia”.
O grupo, dividido em oito ônibus, ainda teve a oportunidade de realizar visitas guiadas a locais históricos, como a Via Ápia, as catacumbas e o Coliseu. A visita e as instruções in loco deram vida aos conhecimentos adquiridos por meio dos livros. A palavra “palácio”, por exemplo, vem do templo construído no monte Palatino, tornando-se um nome conhecido e utilizado no mundo. Outro detalhe: A destruição de Jerusalém e o saque ao Templo ajudaram a financiar o Coliseu, que foi construído em oito anos, abrigava mais de 65 mil pessoas sentadas e tinha uma cobertura móvel. Ali morreram violentamente incontáveis seres humanos e animais. Ainda hoje é de causar assombro.
Diferentemente do Coliseu, o estudo da escatologia não serve para assombrar, gerar medo, mas para animar e produzir esperança. Trata do tão sonhado reencontro com Jesus, a reparação de todas as injustiças e o estabelecimento de um novo reino em que todo sofrimento terá fim. Essa foi a ênfase do congresso, que terminou com um novo senso de responsabilidade para todos aqueles que lidam com teologia, influenciando outros líderes e, portanto, a igreja e o mundo com o qual ela tem contato.
DIOGO CAVALCANTI é pastor, jornalista e coordenador editorial de livros na CPB